sábado, 22 de novembro de 2008

Plano cruzado

O Plano Cruzado foi um plano econômico lançado pelo governo brasileiro em 28 de fevereiro de 1986 por Dilson Funaro, ministro da Fazenda do governo do presidente José Sarney. O plano mudou a moeda do Brasil de Cruzeiro para o Cruzado e posteriormente para o Cruzado Novo, congelou os preços e salários e criou o gatilho salarial.
Índice[mostrar]
1 Autores
2 Medidas iniciais
3 Diferenças entre plano cruzado e plano austral
4 Polêmicas
4.1 Datas utilizadas nas conversões de preços e salários
5 Fatores de fracasso
5.1 Congelamento e cristalização de preços relativos
5.2 Ausência de controle de gastos do governo
5.3 Proximidade eleitoral
6 Resultado
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Autores
Além de Dilson Funaro, outros economistas participaram da elaboração do Plano, como João Sayad, Edmar Bacha, André Lara Resende e Persio Arida. No dia 16 de janeiro, João Sayad, Persio Arida, André Lara Resende, Oswaldo de Assis e Jorge Murad votaram a favor do Plano, Dilson Funaro, João Manuel Cardoso de Mello, Luiz Gonzaga Belluzzo, Andrea Calabi e Edmar Bacha acharam-no muito arriscado. Com a recusa da maioria, João Sayad, Ministro do Planejamento, afirmou que iria pedir demissão. Jorge Murad convenceu o seu sogro José Sarney a adotar o Plano Cruzado, apoiando Sayad, Persio Arida, Andre Lara Resende e Jorge Murad, a favor do Plano.
Adotado, o plano logo conquistou maciço apoio popular e isto fez com que mesmo seus opositores iniciais o apoiassem com entusiasmo. Todos reinvidicavam para si a paternidade do plano, enquanto fez sucesso, mas quando mostrou suas deficiências, seus "pais" passaram a rejeitar o "filho"

Medidas iniciais
O objetivo principal do plano foi a contenção da inflação e para isso foram adotadas várias medidas, sendo as principais:
Substituição da moeda do Brasil de Cruzeiro para o Cruzado e divisão do valor de face por 1000, fazendo Cr$ 1.000,00 = Cz$ 1,00.
Suspensão da correção monetária generalizada. A correção monetária provocava uma indexação quase completa da economia e realimentava a expectativa inflacionária (Kirsten, 1986);
O congelamento de preços pelo prazo de um ano, isto é, a fixação de todos os preços do varejo nos valores praticados em 20 de fevereiro de 1986, medida adotada para eliminar a memória inflacionária. O congelamento era fiscalizado por cidadãos que ostentavam, orgulhosos, bottoms de fiscal do Sarney, depredavam estabelecimentos que aumentavam preços e chegaram a dar voz de prisão a gerentes de supermercados;
Antecipação dos reajustes salariais, unificando a época dos dissídios, inclusive com antecipação de 33% do salário mínimo (Kirsten, 1986);
Implantação da Escala Móvel de Salários ou gatilho salarial com a correção automática dos salários sempre que a inflação acumulada pelo IPCA ultrapassasse 20%

[editar] Diferenças entre plano cruzado e plano austral
Israel e Argentina já haviam implementado planos similares e uma adoção de um plano no Brasil era questão de tempo pois a inflação de 12% a 14% ao mês era irreversível, mas ainda não explosiva (Longo, 1986). Com isso, ainda não havia uma sincronização das datas de reajustes, apresentando discrepâncias como o reajuste diário do câmbio do dólar e reajuste semestrais para salários, aluguéis e prestações do SFH (Martone, 1986)

Polêmicas

Datas utilizadas nas conversões de preços e salários
Um erro foi terem esquecido de trazer os preços a prazo de 30, 60, 90 dias ao seu valor presente a vista. Em vez de congelamento, ocorreu um aumento de 17%, 34%. Produtos vendidos com 30 dias tiveram um aumento real de 17%, a inflação media da época embutida nos preços. Produtos como brinquedos que tinham 180 dias de prazo, tiveram aumentos reais de 256%, no caso de empresas do setor de brinquedos como, por exemplo a Trol [1], de propriedade do ministro da fazenda. Persio Arida se desculpou do erro, alegando que estudara Argentina e Israel que estavam em hiper-inflação, quando não há mais vendas a prazo. Este erro na propria regra de congelamento desorganizou os preços relativos da economia, paralisou a produção por um mes e criou a famosa briga pelo "deflator" onde fornecedores e clientes discutiam novos preços reais.

Fatores de fracasso

Congelamento e cristalização de preços relativos
O plano começou a fracassar exatamente porque os preços relativos da economia estavam desequilibrados. Por não equalizarem o valor presente dos preços, muitos produtores que corrigiam seus preços entre dia 1 a 15 dos mês, ficaram com o preço tabelado abaixo da rentabilidade desejada ou até mesmo abaixo do custo de produção o que ou inviabilizava a venda dos produtos para o consumo ou levava a uma queda na qualidade dos mesmos. Empresas que haviam reajustados seus preços nos dias anteriores ao plano, saíram beneficiadas.
Como o congelamento não permitiu que os preços sujeitos à sazonalidade se ajustassem, ocorreu um desequilíbrio de preços o que provocou o desabastecimentos de bens e o surgimento de ágio para compra de produtos escassos, principalmente os que se encontravam na entressafra (carne e leite) e de mercados oligopolizados (automóveis).
Além destes fatores alguns economistas apontam o abono concedido ao salário mínimo(aumento real de 16%) e ao funcionalismo público (abono de 8%) como responsável por um aumento do consumo o que pressionou ainda mais a demanda, impedida de ser contrabalanceada por um aumento de preços.

Ausência de controle de gastos do governo
Outros fatores que levaram ao fracasso do plano foi a falta de medidas econômicas por parte do governo para controlar os gastos públicos. O congelamento da taxa de câmbio levou o país a perder uma parcela considerável de reservas internacionais e os juros da economia estavam negativos o que desestimulava a poupança e pressionava o consumo.

Proximidade eleitoral
Algumas medidas corretivas ainda foram tomadas pelo governo , mas a proximidade das eleições fez com que o governo evitasse tomar medidas impopulares para garantir a sobrevivência do Plano. Após as eleições, onde os partidos governistas, PMDB e PFL, elegeram 22 dos 26 governadores do estado, o governo implementou medidas impopulares como o descongelamento de preços com o intuito de tentar salvar o Cruzado. Entretanto no ano seguinte a inflação se reacelerou num patamar maior que o anterior ao plano.
O Plano Cruzado foi considerado por muitos oposicionistas, entre eles Delfim Netto, um plano inconsistente, populista e eleitoreiro visando apenas a aumentar a popularidade do governo e seus candidatos para vencer a eleição.
A maioria dos candidatos do governo venceu as eleições. Foi até cunhada , por isso tudo, a expressão "Estelionato Eleitoral". Verdade ou não o plano naufragou de vez logo após as eleições. A população se revoltou com quebra-quebra de ônibus e invasão de supermercados. A hiperinflação se instalou, sem controle.

Resultado
O Plano Cruzado não apenas fracassou, como dele resultaram muitas ações judiciais até hoje em curso, na qual cidadãos comuns exigem de bancos e governos a reparação das perdas monetárias sofridas.

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