sábado, 22 de novembro de 2008

anos 80

Após as décadas de 60 e 70, quando o país vivenciou grandes transformações econômicas e sociais, passando de uma certa ingenuidade coletiva dos anos 50 às dificuldades políticas da ditadura militar, iniciou-se a década de 80 com a população mais esclarecida sonhando com reabertura política e volta à democracia.
Se por um lado era possível antever melhorias políticas, a economia não apresentava indicadores animadores; o país conviveria com índices econômicos apenas razoáveis e inflação crescente, tudo fazendo crer que nada poderia melhorar a curto prazo.
As lideranças culturais e políticas deflagraram o movimento das "Diretas já" em 1983 e 1984, empolgando o país com a campanha pela eleição direta para presidente da República, mas infelizmente nosso Congresso não teve coragem para aprová-la : teríamos ainda eleições indiretas e Tancredo Neves foi eleito em janeiro de 1985; simbolizou essa vitória a vontade da sociedade civil contra o candidato dos militares e a retomada do respeito à vontade popular; lamentavelmente Tancredo adoeceu, vindo a falecer sem tomar posse em 21 de abril do mesmo ano causando imensa comoção popular; assumiu o vice José Sarney.
Na economia tivemos que conviver com diversos planos econômicos de promessas mirabolantes mas pífios resultados: Plano Cruzado em 1986, Plano Cruzado II em 1987 e Plano Bresser no mesmo ano: evidentemente tantas mudanças conceituais desestabilizaram a economia e a grande maioria das empresas foi prejudicada; a inflação atingia 365% ao ano sem perspectivas de diminuição.
Em 1988 foi promulgada nova Constituição ratificando definitivamente o estado de direito no país: apesar da euforia da maioria da população, críticos mais esclarecidos indicavam haver mais "benefícios" que "obrigações" na nova Carta Magna; anos mais tarde comprovou-se tal desequilíbrio com o terrível aumento das contas "a pagar" do governo.
Em 1989 realizou-se a primeira eleição direta para presidente da República em quase 30 anos, vencida por Fernando Collor de Mello. Muitos críticos passaram a chamar os anos 80 de "a década perdida" pelos avanços que o Brasil deixou de fazer nas áreas social e econômica.
Depois do fracasso de 1950 para o Uruguai, em 1982 o futebol brasileiro teve talvez a maior decepção com a derrota para a Itália no mundial da Espanha: o Brasil conseguira formar sob o comando de Telê Santana, uma das melhores equipes dos últimos anos, jogando maravilhosamente bem, mas por ironia dos deuses do futebol não chegou ao título. Perdemos também o mundial de 1986 no México.
Para compensar tivemos a consagração do judoca Aurélio Miguel, vencedor da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1988 em Seoul.
Nas artes, em particular no cinema tivemos a consagração de Fernanda Torres no Festival de Cannes, recebendo o prêmio de melhor atriz de 1986 pelo filme "Eu sei que vou te amar".
O sucesso das telenovelas brasileiras crescia assustadoramente e o Brasil de comprador de enlatados de televisão passou a exportador de novelas com muito sucesso; nossas musas televisivas eram Luiza Brunet, Xuxa, Luciana Vendramini e Vera Fisher.
Evidentemente os movimentos musicais brasileiros foram influenciados pelas dificuldades da economia e da educação que iniciou um processo de forte declínio com a criação desenfreada de escolas e cursos de baixa qualidade.
O fenômeno do crescimento das bandas de rock nos Estados Unidos e Inglaterra teve impacto no Brasil com a criação de inúmeros grupos musicais, as chamadas "bandas". Nessa onda surgiram : "Blitz", "Barão Vermelho", "Paralamas do Sucesso", "Titãs", "Ultraje a Rigor", "RPM", "Legião Urbana", "Engenheiros do Hawaii", "Kid Abelha", "Ira !", "Capital Inicial", "Camisa de Vênus", "Biquini Cavadão" e muitos outros.
Em janeiro de 1985 acontece no Rio de Janeiro o "Rock in Rio" mega evento reunindo as mais diversas tendências musicais do mundo, com bandas brasileiras e internacionais.
A música sertaneja teve muito sucesso no interior do país desde os anos 20 e 30 graças ao magnífico trabalho do folclorista Cornélio Pires reunindo as principais duplas do interior do Estado de São Paulo, financiando gravações e aparições no rádio; as mais famosas duplas foram Tonico e Tinoco, Alvarenga e Ranchinho, Cascatinha e Inhana; esse gênero firmou-se mais ainda nos anos 80 devido ao grande afluxo populacional do campo para as cidades, aumentando assim o público consumidor desse tipo de música; a partir dos anos 80 a música sertaneja foi fortemente influenciada pela música country norte americana, com os artistas se apresentando com roupas típicas dos caubóis americanos e alterando os temas sertanejos brasileiros para temas eminentemente românticos; as principais duplas dessa "nova" música sertaneja são: Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Zezé Di Camargo e Luciano e algumas outras.
Em novembro de 1984 a Polygram lança o primeiro suplemento de artistas brasileiros em CD e em 1987 a Microservice inaugura a primeira fábrica brasileira de CD's: estava assim inaugurada a era dos CD's, encerrando o brilhante ciclo dos LP's que tiveram papel fundamental no desenvolvimento musical do Brasil.
Graças à grande influência da fabulosa cantora Beth Carvalho, o pagode, praticado há décadas, passou a ser conhecido nacionalmente; originário das festas e comemorações populares feitas nos quintais dos subúrbios do Rio de Janeiro, eram cantadas e tocadas músicas geralmente muito singelas. Dentre os vários grupos de pagode o mais famoso é "Fundo de quintal" com inúmeras gravações e muito sucesso até hoje.
Compositores e cantores já consagrados em outras décadas da MPB continuaram a brilhar nos anos 80: Chico Buarque, Caetano Veloso, Tom Jobim, Djavan, Gonzaguinha, Toquinho, Milton Nascimento, Tim Maia, Roberto Carlos, Gal Costa, Beth Carvalho, Alcione, Paulinho da Viola, Ivan Lins, Simone, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Edu Lobo, Martinho da Vila, Jorge Ben, Fafá de Belém, Rita Lee, Baden Powell e muitos outros.
Por outro lado, novos artistas conseguiram sucesso na década: Joanna, Cazuza, Lulu Santos, Sandra Sá, Leci Brandão, Marisa Monte, Leila Pinheiro, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Almir Guineto.
Com a grande explosão da mídia nos anos 80, principalmente TV e rádio, quando praticamente todas as residências possuíam pelo menos um receptor de rádio e de TV, a divulgação das novas músicas tornou-se muito mais rápida e eficaz, tendo como conseqüência grande disseminação de músicas de má qualidade; objetivos comerciais sobrepujavam os artísticos. Passou a ser muito fácil tornar “qualquer” música, por pior qualidade musical que tivesse, um grande sucesso de público; conjuntos de pequeno valor artístico com dois ou três cantores e duas bailarinas semi-nuas dançando eroticamente passaram a fazer sucesso junto ao grande público, devido à grande divulgação pela mídia. Lamentavelmente foram rareando as músicas de boa qualidade. Ficou mais pobre a MPB.

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